quinta-feira, 13 de maio de 2010

O PASSADO COMO SONHO FUTURO

O navio seguia seu curso rápido e inelutável,impelido por um vento calmo porém constante.Suas velas pareciam grávidas de tão enfunadas.No convéns próximo a amurada um homem de aspecto nobre olhava pensativo os sulcos que o casco da nave produzia na superfície das águas.Usava vestes escuras com um cinto amarrado firme no abdômem ;já começara a escurecer,algumas estrelas se faziam visíveis.
Algo que se podia notar de imediato no homem de vestes negras era a diferença de altura entre ele e os demais tripulantes.
O jesuíta Aurélio de Albuquerque França era no mínimo um palmo mais alto do que o maior entre os demais.Viera para o arquipélago japonês a exatos dez anos como missionário;qual não foi sua surpresa em encontrar no lugar de bárbaros pagãos uma sociedade que em certos aspectos estava mais adiantada que a européia.
Como todo missionário cristão estabelecera-se no porto de nagasaki,tinha planos de se espraiar pelo interior porém logo percebeu que a resistência ao cristianismo era maior do que imaginara.
Acabou por se tornar o responsável,a pedido do vigário geral da companhia,pela catequese dos filhos dos conversos nipônicos.Fora como professor nos fundos da catedral construída na região sul da cidade que Aurélio conheceu Mieko,não demorou muito para se encantar com a beleza e principalmente com a facilidade com que ela aprendia o que era ensinado.
Sua constituição física não diferia muito das outras jovens de sua idade porém seus olhos se apresentavam tão doceis e bondosos que seria impossível não distingui-la das demais alunas.
Quando a vira pela primeira vez Mieko contava apenas 13 anos .Agora estava na casa dos 15 portanto apta para ser desposada e é justamente este o motivo que leva nosso amigo a fitar as águas de forma tão reflexiva como se esperasse do mar respostas ou mais exatamente alívio para o que sentia.
Chegariam a Kobe tarde da noite esperariam o dia nascer e desceriam a terra Aurélio faria de acordo com o combinado entre as famílias dos noivos o casamento dentro de um mês.
O padre se afastou da amurada onde se apoiava e caminhou lentamente pelo convéns,dando profundas inspirações,na tentativa de clarear a mente usando o ar fresco que a tarde trazia.Inúmeros pensamentos invadiam sua mente e o mais perturbador e ao mesmo tempo agradável era o do beijo.

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